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Diálogo das incertezas

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seraFoto: Reprodução/Pinterest — Mas qual é o seu medo, menina? — Ah, eu não diria que é um medo, assim, no sentido completo da palavra, como quem olha para os lados e só enxerga isso, sabe? É mais um receio, um frio na barriga – que até me deixa dormir, mas não muito bem… E, de repente, isso me veio agora e tornou as coisas um pouco difíceis. — Pelo que entendi, então é sobre ansiedade? Estou achando que você teme o futuro, é isso? — Não! Na realidade, acho que é um pouco de medo do passado. — Como assim? Você se arrepende de algo que fez? — Não me arrependo, mas não tenho certeza se fiz as escolhas certas ou se ainda as farei. Você me entende? A vida não é tipo um teste de múltipla escolha que, após assinalar as respostas, dali a um mês a gente recebe o resultado. O pior: antes disso, nem dá para estudar direitinho pra cada matéria e garantir o nosso melhor desempenho em todos os itens. A gente só vai e faz. Depois, esperamos pelo gabarito, enquanto continuamos a fazer mais e mais… É tipo um teste infinito, que nem sempre nos dá respostas. — Sim. Eu nunca tinha parado para pensar nisso, mas é verdade. É assim mesmo e acontece com todo mundo. — E o que me assombra são as respostas que gostaria de ter e não tenho. Porque me sinto como se dependesse delas para seguir em frente. Bem como uma questão: como é que vou fazer a número 8 quando terminei a 7 sem saber se entendi direitinho todos os conceitos e se fiz a escolha certa para mim? — Mas é normal, todo mundo é suscetível a erros e não há mal nenhum nisso. Acho que você tem que parar de se condenar! — Eu não me condeno, mas gostaria de receber um sinal do destino de que estou no caminho certo. Que tudo não foi em vão, que deixei para trás o que precisava ser deixado, que a via que peguei era a certa para mim. Mas tudo o que vejo são respostas em branco. — Olha, é assim comigo também, te juro. Mas a única diferença é que me permito ver estas respostas até onde elas não existem. Simplesmente vou até elas e escancaro uma porta enorme de positividade para tudo o que fiz: porque se fiz, já está feito – e dei o meu melhor naquele momento. Quando não é para dar certo, acredite, as respostas negativas são as primeiras que chegam. E aí me coloco novamente nos trilhos e me preparo para tomar novas decisões. Só que para aquelas cuja resposta demora a chegar, me permito interpretar que são boas. — Como? — Eu acredito que nada é em vão. Se a gente fez uma escolha, foi porque nosso coração mandou que fosse assim, e, naquele momento, por maior que fosse a indecisão, o caminho não poderia ser outro. No exato instante em que dou o primeiro passo, largo para trás as outras vias nas quais poderia ter andado: elas simplesmente não existem mais. Dali pra frente, é só a certeza que me acompanha – e me permito enxergar os outros elementos como reforçadores do que fiz. Silêncio. — Eu acho que, desta forma, você só está se reconfortando… — De maneira alguma! Você nunca ouviu falar que o segredo de tudo está na confiança? Pois então. Em alguns casos, sei que vou aprender, crescer e lidar com o que fiz – tomando cuidado para não fazer novamente. Mas jamais deixarei o desgosto tomar conta após uma decisão que tomei. — Agora acho que entendi. Isso soa um pouquinho como coragem. Desse jeito, você não dá espaço para arrependimentos, sim? Porque, enquanto você falava, eu fiquei pensando aqui e percebi que, na verdade, o meu receio vem mais do temor de me lamentar no futuro. — É bem por aí! Não existe esse tal do “não devia”, não dá para deixar o pesar tomar conta do passado. Ele já foi. — Pensando desta forma, eu realmente fico mais tranquila. — Faz mais sentido, não é? Quando tudo vale a pena, não sobra espaço para as incertezas.

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