
Quando era adolescente e ainda morava com a minha mãe, ela implorava para eu lavar a louça. E eu, crisenta viciada em ICQ, dizia “que já ia”, reclamava brava que ela estava sendo “um saco” e ela tinha que me mandar fazer isso até cansar. O mesmo acontecia no meu armário, que ficava desorganizado-organizado do meu jeito, porque só eu me entendia ali dentro. E isso dava um desespero geral na minha mamacita também. Algumas pessoas se identificam nessas situações, outras não. A fase da “aborrescência” chega diferente para cada um. Não sei se virei gente grande, virei a minha mãe ou evoluí o tasmania que existia dentro de mim, mas hoje em dia todas essas porqueirinhas me dão um desespero absoluto. Quando saí de casa e fui morar sozinha pela primeira vez, imaginei que seria como montar a casa da barbie (sério, ai ai). Com muito menos dinheiro e luxo, é claro, mas eu não tinha noção nenhuma da dimensão da responsabilidade de gerenciar uma casa dividida com outras pessoas. Um apartamento com móveis, poeira, contas, muitas contas e um banheiro para lavar semanalmente. Mirei na liberdade e esqueci dos perrengues, que fui descobrindo um a um. Demorei quatro apartamentos para entender o quanto é mais gostoso curtir o meu canto do que encher a casa de visitas. Hoje moro literalmente sozinha, com dois gatos. Fico com um pouco de preguiça dos móveis fora do lugar e da pia cheia de louças. Adoro receber amigos, mas prefiro que venham três e que a gente cuide da casa com carinho. E há quem diga que quando sair da asa dos pais quer fazer muita festa. Vai nessa, minha amiga, porque haja produto de limpeza e ânimo. Eu lembro da minha mãe me pedindo para lavar os copos e agradeço – porque a vida e morar sozinha me ensinou a fazer isso sempre que como na casa dos outros. Acho legal quando fazem na minha também. Viver sozinho traz muita alegria, mas também alguns dramas. Poderia citar mil deles para vocês de identificarem, mas gosto de simplificar com o papel higiênico. Quando você mora em família, ele nunca acaba, e há sempre um rolo extra no armário que você não faz ideia de como chegou ali. Fortes são aqueles que descobriram a emoção de um papel higiênico acabar, a dispensa ficar vazia com apenas dois miojos de galinha caipira e o guardanapo faltar na hora de servir uma janta. Ter o silêncio e o momento do seriado, do livro e da música alta não tem preço. Mas por falar em preço, você também aprende a pesquisar o supermercado mais em conta e a pechinchar o valor de um microondas. Morar sozinha não é brincar de casinha, mas eu garanto que é muito divertido. Se identificaram com alguma das situações? ;) O post Morar sozinha não é brincar de casinha apareceu primeiro em Chata de Galocha! | Lu Ferreira, e é de autoria de Marcella Brafman.